A partir de sexta-feira (26), a indústria e a construção civil terão de parar por tempo indeterminado em Porto Alegre. É o que estabelece decreto publicado pela prefeitura da Capital na madrugada desta terça-feira (23), excluindo da paralisação apenas os ramos considerados essenciais. A volta a um cenário similar ao verificado entre março e abril, no início da pandemia, foi recebida com um misto de surpresa e indignação por dirigentes dos setores.
A regra municipal aumenta as restrições implementadas pelo governo do Estado dentro do modelo de distanciamento controlado. Classificada como bandeira vermelha, Porto Alegre já teria de adaptar a rotina de trabalho nas fábricas e nos canteiros de obras. Pela diretriz estadual, as fábricas poderiam operar com 50% dos trabalhadores ou 75% da mão de obra nos setores essenciais. Já a construção deveria ter, no máximo, 75% dos funcionários em atividade.
Agora, com a decisão do prefeito Nelson Marchezan, apenas as indústrias em setores essenciais poderão funcionar na Capital, casos de ramos como alimentos, embalagens, limpeza e equipamentos e acessórios para proteção pessoal e profissional. Na construção, o atendimento só é permitido em serviços de saúde, segurança, educação e assistência social.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Gilberto Petry, manifestou, por meio da assessoria de imprensa da entidade, contrariedade às restrições impostas ao funcionamento da indústria na Capital. “Essas constantes alterações e mudanças de uma semana para outra nos dão muita insegurança. O industrial não pode programar sua produção e o empregado não sabe quando vai trabalhar, se vai trabalhar ou manter seu emprego”, diz Petry, por meio de nota.
A Fiergs argumenta que a ampliação das restrições “aumenta as perdas do setor e desorganiza mais a economia, já bastante afetada pela pandemia”. Além disso, a entidade lembra que as indústrias já tinham a cultura do uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) e adotaram novas práticas para reforçar a segurança durante a pandemia.
Dirigentes querem reverter medidas
Dirigentes da construção civil se reuniram ao longo desta terça para debater o tema e pretendem recorrer ao comitê de crise da prefeitura para tentar reverter as restrições. O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), Aquiles Dal Molin Júnior, aponta que o decreto municipal paralisa as atividades em praticamente todos os 192 canteiros identificados na Capital. Ele se disse surpreendido com a decisão do prefeito.
— Estamos seguindo os protocolos e monitorando a situação nas 192 obras na Capital. Até agora não registramos nenhum caso de covid-19, o que prova que o setor da construção não é um vetor de contágio — argumenta o dirigente.
A orientação do Sinduscon é que os canteiros sigam ativos até a data limite prevista pelo decreto. O presidente da entidade afirma que a nova paralisação deverá repercutir em atrasos nos prazos de entrega das construções e deverá levar as empresas a demitir funcionários. Segundo Dal Molin Júnior, mecanismos como a suspensão de contrato e a redução de jornada já foram utilizados pelas companhias. Atualmente, a construção mobiliza 27 mil empregados.
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