Duramente afetado pelo período de recessão econômica, o setor da construção civil deve voltar a registrar crescimento mais expressivo em 2020. Nesse contexto, deve representar 1 impulso relevante para a economia brasileira neste ano.
A avaliação é de José Carlos Martins, 66 anos, presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção).
Segundo estimativa da entidade, os dados consolidados de 2019 devem apontar ganhos de 2% sobre o ano anterior, número tímido, mas importante depois de 5 anos consecutivos de queda.
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Para Martins, o cenário mais positivo da economia brasileira, dentro de 1 contexto de inflação controlada e taxa básica de juros no menor patamar da história (4,5% ao ano), a projeção é de que a atividade do setor ganhe força e registre crescimento de 3% em 2020.
Nesse cenário, os investimentos devem voltar a ser direcionados com mais vigor ao setor, já que a retomada do crescimento, de maneira geral, necessita de apoio da construção civil. Segundo Martins, a recuperação do setor voltaria a representar uma “locomotiva” dentro do PIB do país.
A virada para o setor veio no 2º trimestre de 2019, quando a construção cresceu 0,4%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Interrompeu 1 longo período de retração.
Para José Carlos Martins, presidente da CBIC, há otimismo em relação à recuperação do setor em 2020Divulgação/CBIC
Eis os principais trechos da entrevista com o presidente da CBIC:
Poder360: A construção civil tem registrado retração nos últimos anos. Qual a expectativa do setor para a economia, de maneira geral, em 2020?
José Carlos Martins:
Analisando o Brasil no geral, a economia começa a entrar nos eixos. No caso da construção civil, ela começa a ser bem mais otimista, olhando a Selic e a inflação. Os investidores precisam partir para alguma alternativa, que não está no governo. E a construção passa a ser uma fonte ótima para investidores.
Poder360: Diante disso, a recuperação da construção civil fica mais consolidada?
Fica mais clara. A construção ficou 20 trimestres com crescimento negativo. Andou para trás em 7,7%. Outros segmentos, como agricultura, indústria, cresceram, por sua vez. No 2º trimestre de 2019, foi o 1º em que a construção cresceu.
Quando se abrem os números, vemos que os serviços cresceram por conta do serviço imobiliário, assim como a indústria da transformação cresceu com a locomotiva da construção civil.
Poder360: Em que nível o crescimento da economia depende do desempenho da construção civil?
Não tem nenhum segmento da economia que não dependa de infraestrutura. Com taxa de juros baixa, economia estável, e segurança jurídica, começa-se a ter 1 ambiente, 1 cenário favorável ao investimento na construção.
Poder360: O investidor fica mais disposto a correr riscos?
Por exemplo, antes optavam por títulos do Tesouro Nacional. Agora, o interesse passa a ser Fundos de Investimento Imobiliário (FII’s).
O fundo de pensão não pode ficar preso a títulos do Tesouro. Isso não garante a aposentadoria de ninguém. Só que esse risco fica minimizado. Com economia estável, você começa a ter o alinhamento dos planetas. O emprego está aumentando, então há mais possibilidade de encarar riscos.
Poder360: O emprego na construção civil tem aumentado. Como deve ficar o cenário para 2020?
Achamos que irá crescer mais do que em 2019. Chegamos, antes da crise, a ter 3 milhões de pessoas contratadas pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Depois, fomos para 2 milhões. Devemos aumentar, neste ano, em 100.000 postos de trabalho. Mas 2020 ainda ficará muito longe do que já foi.
Poder360: Dá para dizer que, em 2020, a construção civil será uma força motriz para o crescimento econômico?
É natural, em todas as economias, que o investimento seja a locomotiva do desenvolvimento. E 50% do investimento é na construção civil. Então, isso é a coisa mais natural do mundo.
A nossa grande crítica à liberação do saldo do FGTS [Fundo de Garantia do Tempo de Serviço] é por causa disso. Porque esse recurso de até R$ 500 você gasta no comércio e incorpora apenas ali. Quando você investe fazendo 400.000 casas, consegue criar empregos diretos e impacta toda a cadeia produtiva.
Poder360: Tendo em vista as previsões para a construção civil neste ano, é possível afirmar que, finalmente, a recuperação do setor ganhou tração?
Achamos que sim. Ganhando tração e ainda o espírito da locomotiva da construção. Devemos crescer 3% em 2020.