26.03.2012
Construção civil cresceu dez vez mais que o restante da indústria em apenas um ano (entre 2010 e 2011)
O saldo entre admissões e desligamentos na construção civil, nos oito últimos anos, foi positivo em mais de 45.744 vagas, no Estado. As informações são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego. O mercado de trabalho se aquece e com ele as expectativas de evolução na carreira.
No topo do prédio de 22 andares que está prestes a ser entregue ao mercado imobiliário, em um dos bairros mais elitizados de Fortaleza, José de Oliveira Lima, comemora a maturidade e o ápice de sua carreira profissional. Nada mal para quem, aos 16 anos, deu início a uma dura saga em que fora ajudante de tudo (do mecânico ao marceneiro).
Só que a sorte começou a mudar. Deixou de ser chamado de auxiliar ao abraçar a função de ferreiro. Daí foi um pulo para servente. Há dez anos, finalmente, a grande chance da vida dele. E o cearense de uma família pobre de Juazeiro do Norte não a desperdiçou. Virou mestre de obras da Scopa Engenharia. Hoje, as 44 anos, chega a comandar 120 homens no canteiro. Na hierarquia da obra, somente está abaixo do engenheiro, arquiteto e dos donos da construtora.
O mestre Oliveira, como no ditado popular, soube juntar a fome à vontade de comer. Percebeu o avanço da construção civil e investiu na sua capacidade técnica e vontade de trabalhar. O resultado foram as sucessivas promoções, ou melhor, ´classificações", como ele prefere dizer. "Esta semana mesmo a gente classificou mais uma pessoa para ser encarregado. A demanda está muito grande e a empresa sempre procura investir na gente. Tenho orgulho em ser um exemplo para os que estão trabalhando comigo", conta, com o prazer de quem sempre participa desse tipo de escolha.
Oportunidades
Para um dos diretores da Scopa, Marcelo Pordeus, o boom da construção civil está abrindo cada vez mais brechas, que, em décadas anteriores, eram consideradas somente exceções. "O mercado está aquecido. A construção civil não está sentindo o mesmo que a indústria da transformação. Pelo contrário, está em ascensão. E investir no funcionário da terra tem sido uma boa alternativa para suprir a carência de mão de obra. É bom para o empresário e para o trabalhador", avalia. De acordo com projeção do vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE), André Montenegro, esse momento de pujança do segmento deve permanecer por mais uma década. "Vamos precisar de pelo menos 150 mil operários na construção para atender à demanda que vem por aí. É mais do que duplicar a disponibilidade atual de postos de emprego. Só a refinaria e a siderúrgica vão absorver 22 mil cargos na área", estima. Conforme com dados do Caged, a última vez que as demissões superaram as contratações foi em 2003, quando 1,4 mil vagas extinguiram-se. "Aconselho quem quiser seguir para construção, que vale a pena. Somos o único segmento da indústria a dar participação nos lucros, e todos os reajustes dos últimos anos foram acima da inflação. Estamos crescendo", indica André. Conforme o relatório do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), o crescimento entre 2010 e 2011 do Valor Adicionado da construção civil (4,9%) foi dez vezes superior à evolução da indústria como um todo (0,5%).
Sem vergonha
Ainda na cobertura do edifício, em que cada apartamento custará em média R$ 700 mil, o mestre Oliveira confirma a boa fase da área que escolheu para suprir o sustento da família. "Procuro tratar todos aqui com respeito e eles também. Dou muitos conselhos. Antigamente as pessoas tinham vergonha de dizer que trabalhavam na construção civil. Hoje não existe mais isso", sorri, ressaltando que é do trabalho da construção que paga o ensino particular dos quatro filhos.
"Sou muito agradecido por terem confiado em mim. As responsabilidades também aumentaram e o salário melhorou. Além disso, não falta serviço. Assim que terminar essa obra já tem outra", destaca, confessando que outra vantagem é trabalhar apenas de segunda a sexta. "Quero continuar na construção civil até me aposentar".
"Mudar nem pensar"
Outra pessoa que nem sonha em mudar de ares é a rejuntadora Antônia Maria Lucas da Silva ou simplesmente a "Lôra". Ela trabalha na obra do edifício Centurion, da construtora Marquise, e já tem 22 anos dedicados à construção civil. "Lôra" foi uma das pioneiras a adentrar em um ambiente de trabalho predominantemente masculino, no Ceará.
Aos 46 anos de idade, nunca se arrependeu de ter escolhido essa área. Nem mesmo de ter trocado de marido, porque ele não aceitava seu emprego. "Ele era policial e tinha muito ciúme. Não aceitou meu trabalho, por isso acabou a relação".
O esposo atual, diz ela, dá apoio total. Assim como o restante da família. "Meus filhos sempre tiveram orgulho. Minha filha quer ser engenheira por causa de mim. Meu esposo, que é motorista, nunca reclamou", afirma, revelando até que ganha mais do que ele. "Eu amo o que faço. Ainda mais agora que estamos numa fase boa".
Evolução do segmento abre portas
Há apenas cinco meses, Antônia Clédina Assunção Menezes, deixou de fazer bolo em casa para dar início ao seu desejo máximo de infância: trabalhar na construção civil. "Até hoje acho muito bonito", conta ela, que é mais uma das pessoas que estão de olho no crescimento do setor.
Ao 46 anos de idade, período da vida em que muitas portas se fecham, Clédina encontrou um novo motivo para voltar a sonhar. "Eu casei muito cedo. Vieram os filhos e acabei trabalhando em outras coisas. Mas, certo dia, vi um anúncio e resolvi me matricular no curso do Senai. Fiz uma planta baixa e gostaram. Desde então fui chamada para trabalhar aqui", confessa, recheada de entusiasmo de quem sabe que está vivendo um marco divisório na vida.
Ela confessa que ficou nervosa no início e chegou a se questionar "o que é que estou fazendo aqui?", contudo, nunca teve medo de encarar o novo. "Se alguém te abre uma porta e pergunta se você pode trabalhar com tal coisa nunca diga que não sabe fazer. Aceite, e diga que vai aprender a fazer", diz, otimista.
Plano de carreira
Mesmo em pouco tempo empregada na construtora Marquise, ela já deixou a função de rejuntadora, que aprendeu rapidinho para ocupar a portaria. "Tenho que passar por todas as áreas para chegar onde quero. Ser mestre de obras. Acho que, para isso, a pessoa deve saber de tudo um pouco. Considero essa função na portaria muito importante porque só fica aqui quem a empresa tem confiança", orgulha-se Clédina, que é a primeira a chegar e última a sair da obra.
A ex-dona de casa modificou completamente sua rotina. Ela passa muito mais tempo fora do lar. Mas não reclama. Nem os familiares. "Eles entendem. São quatro filhos e já tenho dois netos. Todos me elogiam. Estou muito feliz e eles também".
Sobre o futuro, Clédina conta que vai continuar aproveitando cada chance que aparecer. "Se eu não conseguir ser mestre de obras não vou ficar chateada. Até onde der eu vou. Já estou no lucro. O importante é lá na frente não ter do que se arrepender. É preciso pelo menos tentar", afirma, com a contundência exposta em um sorriso fácil de quem está segura de ter tomado a decisão certa na vida.
O saldo entre admissões e desligamentos na construção civil, nos oito últimos anos, foi positivo em mais de 45.744 vagas, no Estado. As informações são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego. O mercado de trabalho se aquece e com ele as expectativas de evolução na carreira.
No topo do prédio de 22 andares que está prestes a ser entregue ao mercado imobiliário, em um dos bairros mais elitizados de Fortaleza, José de Oliveira Lima, comemora a maturidade e o ápice de sua carreira profissional. Nada mal para quem, aos 16 anos, deu início a uma dura saga em que fora ajudante de tudo (do mecânico ao marceneiro).
Só que a sorte começou a mudar. Deixou de ser chamado de auxiliar ao abraçar a função de ferreiro. Daí foi um pulo para servente. Há dez anos, finalmente, a grande chance da vida dele. E o cearense de uma família pobre de Juazeiro do Norte não a desperdiçou. Virou mestre de obras da Scopa Engenharia. Hoje, as 44 anos, chega a comandar 120 homens no canteiro. Na hierarquia da obra, somente está abaixo do engenheiro, arquiteto e dos donos da construtora.
O mestre Oliveira, como no ditado popular, soube juntar a fome à vontade de comer. Percebeu o avanço da construção civil e investiu na sua capacidade técnica e vontade de trabalhar. O resultado foram as sucessivas promoções, ou melhor, ´classificações", como ele prefere dizer. "Esta semana mesmo a gente classificou mais uma pessoa para ser encarregado. A demanda está muito grande e a empresa sempre procura investir na gente. Tenho orgulho em ser um exemplo para os que estão trabalhando comigo", conta, com o prazer de quem sempre participa desse tipo de escolha.
Oportunidades
Para um dos diretores da Scopa, Marcelo Pordeus, o boom da construção civil está abrindo cada vez mais brechas, que, em décadas anteriores, eram consideradas somente exceções. "O mercado está aquecido. A construção civil não está sentindo o mesmo que a indústria da transformação. Pelo contrário, está em ascensão. E investir no funcionário da terra tem sido uma boa alternativa para suprir a carência de mão de obra. É bom para o empresário e para o trabalhador", avalia. De acordo com projeção do vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE), André Montenegro, esse momento de pujança do segmento deve permanecer por mais uma década. "Vamos precisar de pelo menos 150 mil operários na construção para atender à demanda que vem por aí. É mais do que duplicar a disponibilidade atual de postos de emprego. Só a refinaria e a siderúrgica vão absorver 22 mil cargos na área", estima. Conforme com dados do Caged, a última vez que as demissões superaram as contratações foi em 2003, quando 1,4 mil vagas extinguiram-se. "Aconselho quem quiser seguir para construção, que vale a pena. Somos o único segmento da indústria a dar participação nos lucros, e todos os reajustes dos últimos anos foram acima da inflação. Estamos crescendo", indica André. Conforme o relatório do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), o crescimento entre 2010 e 2011 do Valor Adicionado da construção civil (4,9%) foi dez vezes superior à evolução da indústria como um todo (0,5%).
Sem vergonha
Ainda na cobertura do edifício, em que cada apartamento custará em média R$ 700 mil, o mestre Oliveira confirma a boa fase da área que escolheu para suprir o sustento da família. "Procuro tratar todos aqui com respeito e eles também. Dou muitos conselhos. Antigamente as pessoas tinham vergonha de dizer que trabalhavam na construção civil. Hoje não existe mais isso", sorri, ressaltando que é do trabalho da construção que paga o ensino particular dos quatro filhos.
"Sou muito agradecido por terem confiado em mim. As responsabilidades também aumentaram e o salário melhorou. Além disso, não falta serviço. Assim que terminar essa obra já tem outra", destaca, confessando que outra vantagem é trabalhar apenas de segunda a sexta. "Quero continuar na construção civil até me aposentar".
"Mudar nem pensar"
Outra pessoa que nem sonha em mudar de ares é a rejuntadora Antônia Maria Lucas da Silva ou simplesmente a "Lôra". Ela trabalha na obra do edifício Centurion, da construtora Marquise, e já tem 22 anos dedicados à construção civil. "Lôra" foi uma das pioneiras a adentrar em um ambiente de trabalho predominantemente masculino, no Ceará.
Aos 46 anos de idade, nunca se arrependeu de ter escolhido essa área. Nem mesmo de ter trocado de marido, porque ele não aceitava seu emprego. "Ele era policial e tinha muito ciúme. Não aceitou meu trabalho, por isso acabou a relação".
O esposo atual, diz ela, dá apoio total. Assim como o restante da família. "Meus filhos sempre tiveram orgulho. Minha filha quer ser engenheira por causa de mim. Meu esposo, que é motorista, nunca reclamou", afirma, revelando até que ganha mais do que ele. "Eu amo o que faço. Ainda mais agora que estamos numa fase boa".
Evolução do segmento abre portas
Há apenas cinco meses, Antônia Clédina Assunção Menezes, deixou de fazer bolo em casa para dar início ao seu desejo máximo de infância: trabalhar na construção civil. "Até hoje acho muito bonito", conta ela, que é mais uma das pessoas que estão de olho no crescimento do setor.
Ao 46 anos de idade, período da vida em que muitas portas se fecham, Clédina encontrou um novo motivo para voltar a sonhar. "Eu casei muito cedo. Vieram os filhos e acabei trabalhando em outras coisas. Mas, certo dia, vi um anúncio e resolvi me matricular no curso do Senai. Fiz uma planta baixa e gostaram. Desde então fui chamada para trabalhar aqui", confessa, recheada de entusiasmo de quem sabe que está vivendo um marco divisório na vida.
Ela confessa que ficou nervosa no início e chegou a se questionar "o que é que estou fazendo aqui?", contudo, nunca teve medo de encarar o novo. "Se alguém te abre uma porta e pergunta se você pode trabalhar com tal coisa nunca diga que não sabe fazer. Aceite, e diga que vai aprender a fazer", diz, otimista.
Plano de carreira
Mesmo em pouco tempo empregada na construtora Marquise, ela já deixou a função de rejuntadora, que aprendeu rapidinho para ocupar a portaria. "Tenho que passar por todas as áreas para chegar onde quero. Ser mestre de obras. Acho que, para isso, a pessoa deve saber de tudo um pouco. Considero essa função na portaria muito importante porque só fica aqui quem a empresa tem confiança", orgulha-se Clédina, que é a primeira a chegar e última a sair da obra.
A ex-dona de casa modificou completamente sua rotina. Ela passa muito mais tempo fora do lar. Mas não reclama. Nem os familiares. "Eles entendem. São quatro filhos e já tenho dois netos. Todos me elogiam. Estou muito feliz e eles também".
Sobre o futuro, Clédina conta que vai continuar aproveitando cada chance que aparecer. "Se eu não conseguir ser mestre de obras não vou ficar chateada. Até onde der eu vou. Já estou no lucro. O importante é lá na frente não ter do que se arrepender. É preciso pelo menos tentar", afirma, com a contundência exposta em um sorriso fácil de quem está segura de ter tomado a decisão certa na vida.
Fonte: Diário do Nordeste
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