A escassez de profissionais no setor da construção civil em Sorocaba os valoriza. Tanto que, no momento em que muito se diz a respeito das vagas de emprego na indústria, Anderson Antônio Leme, 30 anos, decidiu pedir demissão da fábrica na qual trabalhava para voltar a fazer o que aprendeu com o avô: construir imóveis. O assédio por sua mão de obra é grande no Wanel Ville 5, bairro onde ele trabalha atualmente e onde há duas empreiteiras em operação, além de centenas de pedreiros e outros profissionais autônomos. “Quem me vê assentando os tijolos para e quer saber quando estarei livre para pegar um novo serviço. Agora só tenho disponibilidade após janeiro”, relata. O primeiro emprego de Leme foi como servente, ao lado de familiares. Com a industrialização de Sorocaba e região veio a tentativa nas linhas de produção, porém o tempo lhe mostrou que era no canteiro de obras que ele ganharia mais. “Tenho mais flexibilidade de horário e os clientes, literalmente, vão até minha casa para me contratar”. Como pedreiro, Fábio Gonçalves, 38, perdeu a conta de quantas moradias levantou. Autodidata, é graças ao trabalho braçal que ele paga a mensalidade do curso superior de Serviço Social, seu grande projeto de realização profissional. O diploma vem já no próximo ano. “A vida me colocou em caminhos que não escolhi, mas tudo deu certo. Quando era mais jovem não tive a oportunidade de fazer uma faculdade, mas hoje estou pagando os meus estudos com o meu trabalho”, diz. Gonçalves afirma que se a nova área que escolheu não der lucro financeiro, continuará trabalhando como pedreiro. “Pelo menos realizei um desejo pessoal. O lucro na construção sei que é certo”, afirma. Apesar do registro em carteira atrair aqueles profissionais que querem contar com um dinheiro certo no fim do mês, o trabalho como autônomo atrai pela flexibilidade de horários e pelo fato do próprio profissional poder tabelar seus preços. Leme e Gonçalves, por exemplo, cobram R$ 250 por metro quadrado sem acabamento. Com serviço completo o metro sobe para R$ 320. Cimento e batom A casa em que a empregada doméstica Cristiane Maciano, 28, mora hoje foi construída por suas próprias mãos delicadas e de unhas feitas. Para viver do ramo da construção, ela está fazendo o curso de pedreiro assentador. Ela conta que em uma sala de dez pessoas, duas são mulheres. “Isso mostra que a mulherada está entrando no setor. Tenho uma amiga que deixou de ser faxineira e se tornou profissional da construção civil. Ela ama o que faz e ainda ganha muito mais do que limpando casa. Foi por isso que decidi me arriscar também.” Mais de 84 mil trabalhadores formais trabalham na construção civil em Sorocaba, o que faz da cidade o município do interior com o maior número de trabalhadores registrados. A cidade deixa para trás cidades muito maiores, como Campinas, que possui cerca de 81 formais. Salários Segundo a Convenção Coletiva do Sindicato da Construção, os pisos são: servente (R$ 869); pedreiro, armador, carpinteiro, pintor e gesseiro (R$ 1.034,00). Segundo o sindicato há 800 mil trabalhadores da construção no país. Sindicato confirma: faltam profissionais Nesse ano o vigilante Francisco Dantas conseguiu juntar dinheiro para mexer na casa. Mandou construir uma edícula e está subindo um segundo andar. “O pedreiro está em casa há três meses. Consegui fazer sobrar um dinheiro para fazer as alterações.” O caso de Francisco é um exemplo da construção sendo diretamente afetada pela economia aquecida. O presidente do Sindicato da Indústria e da Construção Civil, José Sarracinni Jr., explica que com a instalação de novos empreendimentos e indústrias na cidade, muitas famílias estão vindo morar em Sorocaba. Aquelas que não querem construir a própria casa reformam algum imóvel usado. O boom no setor deve durar até as Olimpíadas de 2016, prevê: “Muitos trabalhadores daqui irão para outras cidades, porque há a escassez de mão de obra em todo lugar. Em Sorocaba também teremos de recorrer a profissionais de fora”, explica. Sarracinni ressalta que nesse cenário de escassez, empreiteiras promovem leilões por profissionais. “Em Sorocaba é comum profissionais deixarem uma empresa ao serem assediados por outras que oferecem salário maior”. Isso beneficia até mesmo profissionais de pouca qualificação, como serventes. Segurança do trabalho Segundo o Corpo de Bombeiros, são 100 incidentes com feridos ao mês nos canteiros de obras de Sorocaba. O Ministério do Trabalho fez o acordo com as construtoras Alavanca, Sérgio Cardoso, TMS Comercial, Empreendimentos Imobiliários Vieira & Andrade e Paulo Afonso, que terão de fornecer equipamentos de segurança, instalação de andaimes, elevadores e fiscalização. A multa no caso de descumprimento às normas varia entre R$ 1 mil e R$ 5 mil. | ||
Da Redação, original Bom Dia – Sorocaba. |
Matéria veiculada em: 28/11/2011