Em Itajaí, atividade portuária levou um baque nos anos 2000 por causa da concorrência com os portos privados
Navegantes foi abandonando o posto de patinho feio com a chegada da Portonave, em 2007, que recolocou a cidade no comércio mundial, favorecida, também, por ser a única a ter um aeroporto em seu território, e ao lado de Penha, que teve a economia alavancada pelo Parque Beto Carrero World.
“Eu lembro que a gente tinha que ir para Itajaí comprar um móvel, um eletrodoméstico, roupas e estudar porque não tinha boas escolas em Balneário”, recorda Álvaro Silva Filho, 52 anos. Seu pai, Álvaro Silva, foi um dos pioneiros da cidade e chegou a ser prefeito por nove meses em 1969. “Meu pai chegou em Balneário em 1940. A casa da família sempre foi aqui na avenida Central, onde foi erguido o hotel Silva e, em 1985, o hotel Topázio. Agora, ele dará lugar a um residencial como aconteceu com a maioria dos hotéis tradicionais da cidade”, revela.
O presidente do Sinduscon, Nelson Nitz, 65, é natural de Blumenau, e veio para Balneário aos quatro anos. Depois de se formar engenheiro civil na UFSC, montou a construtora Pecon e seu primeiro prédio, de 10 andares, foi o Dom Afonso (1978). Nelson teve outras duas empresas, sendo que, ao todo, só ele foi responsável por mais de 50 prédios.
“Meu pai era pintor e minha mãe camareira. Depois ele trabalhou como corretor de imóveis, já vendo que o futuro da cidade estaria no ramo imobiliário. Hoje, tem muito fazendeiro do Mato Grosso e empresários que investem em Balneário comprando um apartamento de alto nível, afinal, quem vem pra cá não quer saber de voltar. É uma vida tranquila com serviço de cidade grande”, justifica. A grande expectativa agora é pelos arranha-céus de 70 e 80 andares, que serão os maiores do Brasil.
Nelson conta que o incremento da atividade acabou criando uma rede que gera muitos postos de trabalho. “Além das construtoras, hoje Balneário conta com firmas de decoração, escritórios de arquitetura, móveis, mármore, vidros, enfim, uma cadeia de serviços que só faz crescer”, comemora. O mesmo acontece em Itajaí, segundo a arquiteta Luciana Coelho de Souza Correa, cuja população viu a paisagem mudar radicalmente na última década. “Quando foi revisado o plano diretor de Balneário e as empresas tiveram que esperar até tudo ser definido, viram em Itajaí um novo polo da construção civil”.
Para ela, o grande risco da verticalização sem planejamento de longo prazo é a queda de qualidade de vida. “Se não forem feitos estudos de impactos daqui 20, 30 anos, a cidade vai sofrer com o aumento da temperatura por causa do excesso de asfalto, a falta de arborização, que dificulta a vida dos pedestres e falta de sol na cidade, como já acontece em Balneário Camboriú, onde muitos apartamentos se deterioram por causa da umidade, pois há prédios colados um no outro”, exemplifica.
Porto de Itajaí retoma crescimento depois do tombo
O porto de Itajaí viveu períodos de abundância e reinou praticamente sozinho no complexo portuário até a chegada da Portonave, em 2007. E como se não bastasse a concorrência com a iniciativa privada, a enchente de 2008 ainda destruiu os berços onde os navios atracam. Foi um período difícil até 2010, quando conseguiu recuperar boa parte de suas atividades e competir em condições de igualdade. Mas, a partir de 2012, o porto do lado de lá do rio foi ganhando em relevância, tanto que, em 2016, da movimentação de R$ 1,102,196 bilhões do complexo portuário, menos de R$ 200 milhões eram do porto de Itajaí.
“Ainda não foi fechado o balanço de 2017, mas já temos um levantamento que mostra um crescimento de 10% em relação a 2016. É sempre bom destacar que, como os portos privados utilizam a estrutura do complexo, o porto de Itajaí também ganha com o crescimento dos concorrentes”, conta Héder Cassiano Moritz, superintendente interino. Dados do porto também revelam que a movimentação de carga praticamente dobrou em relação aos números de 2004 por causa dos investidores chineses. Agora, é reforçar a infraestrutura e correr atrás do prejuízo para melhorar a logística e recuperar os clientes.
Héder veio trabalhar na então Portobrás justamente no ano de criação do DIARINHO, em 1979, e acompanhou o sobe e desce da economia. “Neste início da década de 80, estava acontecendo uma mudança no perfil da carga, que antes era manual, para o sistema de contêiner, e em meados dos anos 2000, com a aquisição de empilhadeiras mecanizadas”, narra. As principais mercadorias são carnes congeladas, motores, açúcar e madeira de reflorestamento.
Nos anos 90, com a abertura dos portos no governo Collor, o comércio exterior bombou, e cursos na Univali deram suporte para formar mão de obra especializada. A boa fase da economia mundial na primeira década dos anos 2000 também ajudou a impulsionar a economia do porto e da cidade. Outro atrativo foi a introdução de transatlânticos nacionais e internacionais, atracados no píer construído ao lado da delegacia da capitania dos portos. A cidade já chegou a ter 60 escalas por temporada de verão, mas com o crescimento do tamanho dos navios, as linhas se deslocaram para Porto Belo e Balneário Camboriú.
A primeira etapa das obras para permitir a entrada de navios maiores (até 400m de largura), ao custo de R$ 105 milhões, deve ser concluída até julho de 2018. Obras de dragagem do fundo do rio para garantir o calado de 14 metros são constantes. Já a novela da via portuária, que vai facilitar o escoamento da produção via caminhões até a BR, ainda está em fase de desapropriação ao longo da rua Blumenau, e revisão de projeto.
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