A construção civil, um dos principais motores da economia e que ainda detém o poder de empregar milhões, perdeu fôlego no decorrer deste início do ano e vai gerar menos riqueza e trabalho.
O setor esperava que seu PIB (Produto Interno Bruto) crescesse 2% em 2019. Agora, a estimativa é de 0,5% a 1%. O número de criação de vagas de trabalho no ano também desabou: de 100 mil para 25 mil.
O balde de água fria veio na quinta-feira (30) com o anúncio da queda de 2% de seu PIB no primeiro trimestre de 2019, em relação ao quarto trimestre de 2018, e de 2,2% se comparado ao primeiro trimestre do ano passado.
Foi a 20ª queda consecutiva de atividade do setor, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Nos últimos cinco anos, o PIB da construção já encolheu 28%, segundo o SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo).
Falta de confiança derruba crescimento de empregos
No início do ano, o SindusCon-SP esperava um aumento de pelo menos 4% no contingente de trabalhadores no setor em 2019 em todo o país. Isso significaria, caso viesse a se concretizar, a contratação de pelo menos 100 mil trabalhadores com carteira assinada.
Revisamos esse número para baixo. As contratações devem ir de 25 mil a 30 mil pessoas com carteira assinada, o que corresponde a uma expansão de pouco mais de 1%.Eduardo Zaidan, presidente do SindusCon-SP
Atualmente, o contingente de trabalhadores com carteira assinada no setor da construção civil do país é de aproximadamente 2,5 milhões de pessoas. Mas agora com a confiança em queda é impossível conseguir ampliar esse número, na avaliação do Zaidan.
O Índice de Confiança da Construção (ICST), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), por exemplo, caiu 1,8 ponto em maio, para 80,7 pontos, o menor nível desde setembro do ano passado (80,4 pontos).
Demissões foram o dobro das contratações
Nos últimos dois meses do ano passado, o setor demitiu no Brasil 80 mil trabalhadores. Nos primeiros quatro meses deste contratou apenas 40 mil, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Ou seja, a construção brasileira não conseguiu repor as perdas do último bimestre de 2018.
Acompanhando a piora nas expectativas em relação à demanda nos próximos meses, os empresários ajustaram para baixo suas previsões de contratação, segundo o SindusCon-SP.
Construtoras demitiram 1,2 milhão em 5 anos
Depois de um período de forte contração do mercado de trabalho -entre dezembro de 2013 e dezembro de 2018, em que as construtoras demitiram cerca de 1,2 milhão de trabalhadores- as empresas haviam iniciado este ano contratando.
Os números confirmam que ainda estamos longe da retomada do crescimento econômico necessário para o aquecimento do setorOdair Senra, presidente do SindusCon-SP
Estimativas eram positivas no início do ano
No início deste ano, o SindusCon-SP estimava para o PIB do setor este ano um crescimento de pouco mais de 2%, em comparação com o ano passado. Mas, diante de números negativos, a entidade projeta agora uma expansão de 0,5% a 1%, no máximo.
O PIB da construção (tudo que engloba uma obra, desde seu início até a entrega dela) corresponde atualmente a mais ou menos 3,5% a 4% do PIB do Brasil, estimado para este ano em R$ 6,5 trilhões por algumas consultorias.
Ou seja, o PIB da construção gira em torno de R$ 227,5 bilhões a R$ 260 bilhões. Números nada desprezíveis.
Pior é que o tímido crescimento deve ser alavancado pelo setor informal da construção. Isto é, pela autoconstrução (vizinho ajuda vizinho, parente ajuda parente) e pelas pequenas reformas e melhorias em imóveis, que não geram emprego.
As construtoras em si terão resultados negativos. Ou seja, pouco ou nada vão ajudar na expansão do setor.Eduardo Zaidan
Construtoras não vão investir sem redução de déficit fiscal
As empresas não estão investindo, e não vão investir enquanto não haja uma sinalização ao mundo e à sociedade brasileira de que o país está fazendo um esforço para controlar e reduzir seu déficit fiscalEduardo Zaidan
Segundo ele, ou se criam as condições para o investimento ou não há conversa. "Simples assim. Não tem mais o que fazer", afirmou. Para Zaidan, o país só vai começar a crescer quando arrumar a casa de fato e aumentar a produtividade de sua economia.
O diagnóstico [do país] já foi feito inúmeras vezes. Está aí, todos sabem e conhecem. O leque de coisas que precisam ser arrumadas, como as contas públicas, a questão tributária, as amarras trabalhistas e os problemas judiciais, é gigantesco. Algo precisa ser feito, e não apenas por este governo, mas por qualquer outro.Eduardo Zaidan.
Segundo ele, o governo Bolsonaro por enquanto tem feito muito barulho ao mandar seus projetos para o Congresso, mas até agora não liberou quase nada desse "leque de coisas" que precisam ser arrumadas.
Impacto da reforma da Previdência deve demorar
Mesmo que a reforma da Previdência venha a ser aprovada, o setor afirma que até isso se traduzir em projetos e lançamentos leva muito tempo. Geração de emprego, então, só de seis meses a um ano depois do lançamento, segundo o SindusCon-SP.
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e o Senai divulgaram no dia 27 de maio o levantamento Indicadores Imobiliários Nacionais 1º Trimestre de 2019.
Os principais dados mostram cenário negativo:
- Lançamentos subiram 4,2% em relação ao 1º tri/2018, mas caíram 62,5% comparados ao último trimestre de 2018
- Vendas subiram 9,7% em relação ao 1º tri/2018, mas caíram 18,9% comparadas ao último trimestre de 2018
- 14.680 unidades residenciais foram lançadas no 1º trimestre de 2019; a média dos últimos quatro trimestres é de 27.227
Fonte: economia.uol.com.br
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