Conseguir ser contratada parece a parte difícil.
Então Maho Nishioka compareceu para o seu novo emprego em um canteiro de obras japonês. Os trabalhadores que ela supervisionava recusaram-se a conversar com ela e ignoraram as suas instruções.
Uma vez, um cliente furioso impediu que ela inspecionasse uma ponte, embora ela fosse a única engenheira no local qualificada para a função. “Ele berrou comigo e perguntou por que uma mulher estava fazendo aquele trabalho”, contou. “Fiquei mortificada”.
Mas vinte anos depois de Maho Nishioka começar em seu novo emprego, a queda da taxa de natalidade e a relutância do Japão a abrir-se para os imigrantes deixaram o setor da construção - e a economia - na sua mais grave escassez de mão de obra dos últimos anos.
Graças à pressão da sociedade e a uma campanha de marketing, o setor e o governo tentam agora dobrar o número de mulheres na construção.
Até o momento, a participação feminina na força de trabalho melhorou muito pouco. A jornada muito longa e salários relativamente baixos continuam sendo as principais barreiras.
Depois há o esforço do governo, que ,segundo muitas mulheres do setor, pode ser definido quando muito como desastrado.
O Japão criou um site cor pastel para atrair mulheres jovens interessadas em vários cargos do setor. Para promover as soldadoras, o site tem um link para um desenho animado que mostra uma mulher usando um uniforme cor de rosa com desenhos de corações, segurando uma máscara rosa de soldador em formato de coração.
O setor fornece também mão de obra feminina com toaletes químicos e vestiários portáteis, mas para frustração de muitas, as toaletes são às vezes cor de rosa com desenhos florais.
“Eu sempre acho que deve ser uma ideia saída da cabeça de homens”, disse Nishioka, 46, que dirige a área de promoção da diversidade no departamento de recursos humanos da Shimizu Corporation, uma das maiores empresas de construção do Japão. “Acho que o governo deveria buscar coisas que facilitem o trabalho para as mulheres e para os homens”.
Hiroki Watanabe, um dos funcionários do Ministério da Construção do Japão encarregado de aumentar a participação feminina no setor, disse que a direção geral do contato com o público do Japão não “falhou”. Seus outros esforços incluem premiar projetos de obras públicas para companhias seletas que empregam mulheres, contratação de consultoras para a realização de seminários para executivos da área da construção e promoção de pesquisas entre as trabalhadoras.
O primeiro-ministro Shinzo Abe procurou favorecer as mulheres no local de trabalho por meio de uma iniciativa chamada “womenomics“, que encoraja as companhias a promover a diversidade e as mulheres no cargo de administradores.
No Japão, mais de 75% das mulheres em idade de trabalhar ingressaram na força de trabalho. Mas, quatro anos depois do esforço para dobrar o número de engenheiras e trabalhadoras especializadas na construção até 200 mil em 2019, o número aumentou menos de um sétimo. As mulheres constituem apenas cerca de 3% da força de trabalho do setor.
Continua sendo difícil mudar as atitudes. “Há ainda muitos homens que não querem receber ordens de mulheres”, disse Junko Komorita, diretora executiva da Zm’ken , uma pequena empreiteira no sudoeste do Japão.
Os salários também continuam um problema. Apesar da escassez de mão de obra, os trabalhadores na construção ganham em média 25% menos do que seus colegas em outros setores. E as mulheres na construção ganhavam 30% menos em média do que os seus colegas homens, mostrou um relatório oficial de 2016.
Mas um dos maiores desafios continua sendo a jornada de trabalho exigida nesta função. O trabalho é irregular e muitas vezes requer também os fins de semana.
“Você pode fazer o trabalho parecer glamouroso, mas muitas mulheres acabam saindo quando se dão conta do que se trata”, disse Natsuko Fukuyoshi, 32 anos, estucadora em Tóquio. A jornada de trabalho e a natureza física do emprego fazem com que seja difícil manter homens e mulheres, ela disse, observando que muitas jovens recrutas saem durante os quatro anos de aprendizado.
Yuho Nakamura, uma supervisora de obras estruturais para a Shimizu, trabalha durante semanas até a meia-noite nos meses de maior atividade.
“Existe realmente esta imagem da construção como um setor da economia para homens”, ela disse, “mas eu ouvi dizer que há cada vez mais mulheres entrando e sempre sonhei em ser uma delas”.
Yuho espera um dia ser encarregada de supervisionar um edifício inteiro. Por enquanto, dos 300 funcionários no canteiro de obras onde ela trabalha em Tóquio, frequentemente é a única mulher.
Nishioka, a executiva da promoção da diversidade da Shimizu, certa vez teve semelhante esperança.
“Sonhava que voltava para o campo”, ela disse. “Mas, agora, o deixo para a geração mais jovem”.
Fonte: http://internacional.estadao.com.br
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