Banco cancelou US$ 8 bilhões para obras fora do Brasil
Hidrelétrica de Pinalito, construída pela Odebrecht na República Dominicana. - Divulgação
Com cerca de US$ 8 bilhões em financiamentos cancelados pelo BNDES para obras fora do Brasil, e a imagem chamuscada pela Lava-Jato, as principais empreiteiras do país ainda enfrentam dificuldades para se reposicionar no mercado internacional. Desde 2015, o BNDES indeferiu 22 operações em análise e suspendeu 25 contratos que já estavam em execução. Destes, apenas um foi retomado até agora — a construção do Corredor Rodoviário Oriental, em Gana, no valor de R$ 202 milhões, liderada pela Andrade Gutierrez. Quatorze contratos seguem suspensos, e 10 tiveram os saldos remanescentes cancelados, por iniciativa do BNDES ou a pedido dos países beneficiários das linhas de crédito.
— Formalmente, não há qualquer nova operação para o setor de construção pesada no banco — diz Leonardo Pereira, superintendente de comércio exterior do BNDES, lamentando a perda de espaço do país no disputado mercado internacional de construção, em que atuam apenas 250 empresas. — O banco não escolhe o país, nem o exportador. Os clientes é que têm de apresentar novos projetos
Em 2014, a participação das empreiteiras brasileiras no mercado global da construção civil, estimado em US$ 500 bilhões por ano, chegou a 3%. Junto com elas, 4.044 empresas nacionais, a maioria pequenas e médias, passaram a operar lá fora na condição de fornecedoras — com receita estimada pelo BNDES em US$ 3,4 bilhões em seis anos.
Em fevereiro, a S&P Global Ratings rebaixou a nota de avaliação de risco da Odebrecht. Um dos motivos foi justamente a piora da qualidade do conjunto de projetos. A dívida da empresa, segundo a S&P, atinge US$ 3,2 bilhões.
— O principal risco está na capacidade de gerar novas obras. Sem contratos novos, as empresas consomem capital de giro. Em 2017, a Odebrecht não conseguiu projeto novo, apenas aditivos — diz o analista da S&P Felipe Speranzi.
Além da falta de novos projetos, as empreiteiras têm dificuldade para retomar obras paradas no exterior. Projetos como o Corredor Logístico de Honduras (US$ 145 milhões) e o complexo agrícola de Azua, na República Dominicana (US$ 72 milhões), da OAS e da Queiroz Galvão, chegaram a ter a retomada de liberações do BNDES anunciada, mas os financiamentos acabaram cancelados a pedido dos dois países, que buscam outras fontes de recursos para a conclusão das obras.
O BNDES suspendeu as liberações de créditos de exportação de serviços de engenharia em outubro de 2015 na esteira da Lava-Jato, que colocou empreiteiras em maus lençóis em vários outros países. No Peru, por exemplo, a Odebrecht estava no centro do escândalo que levou à renúncia do presidente Pedro Pablo Kuczynski no mês passado.
As empreiteiras ainda enfrentam problemas para receber por obras no exterior contratadas sem crédito do BNDES. A Odebrecht tem 30 projetos em execução no exterior, dez deles na Venezuela, que não tem honrado os pagamentos em dia.
Com o BNDES, a dívida venezuelana é de US$ 678 milhões. O banco enfrenta ainda a inadimplência de Moçambique, que lhe deve US$ 66 milhões por obras de empreiteiras brasileiras, mas a retomada de parcelas atrasadas está em negociação.
Na semana passada, a CBPO, subsidiária do Grupo Odebrecht, assinou contrato de R$ 578 milhões com Furnas para ampliar a termelétrica Santa Cruz, no Rio. No mercado internacional, a Odebrecht é finalista na licitação para construção da hidrelétrica de Rufiji, na Tanzânia, no Leste da África. O projeto de R$ 3 bilhões pode reposicioná-la num mercado em que tem experiência reconhecida. Consta no seu portfólio a hidrelétrica de Laúca, em Angola.
Alexandre Garcia, analista sênior de construção pesada da Fitch Ratings, avalia que a primeira das empreiteiras a se estabilizar após a tormenta da Lava-Jato foi a Andrade Gutierrez. A empreiteira informa que já tem novos contratos, focando agora na iniciativa privada. Com a Equatorial Energia, por exemplo, assinou contrato de R$ 3,1 bilhões para a instalação de linhas de transmissão. No exterior, ganhou a construção da refinaria Axion, na Argentina, com valor não revelado. Por meio de subsidiárias internacionais, já conseguiu obras na Ilha da Madeira, Argélia e Nigéria. Em janeiro, o governo de Angola aprovou a entrada no país da empreiteira alemã Inzag, que pertence à Andrade Gutierrez.
A situação mais delicada, segundo Garcia, é a da Queiroz Galvão, que atravessou o ano de 2017 renegociando dívidas bancárias — cerca de R$ 10 bilhões, dos quais R$ 1,7 bilhão referente à empreiteira. Procurada pelo GLOBO, a empresa não deu detalhes sobre suas obras fora do Brasil. Limitou-se a informar que vem ampliando sua participação em projetos de infraestrutura no exterior com o apoio de bancos internacionais, agências multilaterais e investidores.
— Formalmente, não há qualquer nova operação para o setor de construção pesada no banco — diz Leonardo Pereira, superintendente de comércio exterior do BNDES, lamentando a perda de espaço do país no disputado mercado internacional de construção, em que atuam apenas 250 empresas. — O banco não escolhe o país, nem o exportador. Os clientes é que têm de apresentar novos projetos
Em 2014, a participação das empreiteiras brasileiras no mercado global da construção civil, estimado em US$ 500 bilhões por ano, chegou a 3%. Junto com elas, 4.044 empresas nacionais, a maioria pequenas e médias, passaram a operar lá fora na condição de fornecedoras — com receita estimada pelo BNDES em US$ 3,4 bilhões em seis anos.
Dificuldades para receber
Segundo dados da Fitch Ratings, que hoje acompanha apenas três das grandes empreiteiras brasileiras, a carteira de projetos dessas companhias minguou dentro e fora do Brasil. Em dezembro de 2014, o estoque de projetos de Odebrecht, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão somava US$ 63 bilhões. Em junho de 2017, último dado disponível, caiu para US$ 24 bilhões, menos da metade.Em fevereiro, a S&P Global Ratings rebaixou a nota de avaliação de risco da Odebrecht. Um dos motivos foi justamente a piora da qualidade do conjunto de projetos. A dívida da empresa, segundo a S&P, atinge US$ 3,2 bilhões.
— O principal risco está na capacidade de gerar novas obras. Sem contratos novos, as empresas consomem capital de giro. Em 2017, a Odebrecht não conseguiu projeto novo, apenas aditivos — diz o analista da S&P Felipe Speranzi.
Além da falta de novos projetos, as empreiteiras têm dificuldade para retomar obras paradas no exterior. Projetos como o Corredor Logístico de Honduras (US$ 145 milhões) e o complexo agrícola de Azua, na República Dominicana (US$ 72 milhões), da OAS e da Queiroz Galvão, chegaram a ter a retomada de liberações do BNDES anunciada, mas os financiamentos acabaram cancelados a pedido dos dois países, que buscam outras fontes de recursos para a conclusão das obras.
O BNDES suspendeu as liberações de créditos de exportação de serviços de engenharia em outubro de 2015 na esteira da Lava-Jato, que colocou empreiteiras em maus lençóis em vários outros países. No Peru, por exemplo, a Odebrecht estava no centro do escândalo que levou à renúncia do presidente Pedro Pablo Kuczynski no mês passado.
As empreiteiras ainda enfrentam problemas para receber por obras no exterior contratadas sem crédito do BNDES. A Odebrecht tem 30 projetos em execução no exterior, dez deles na Venezuela, que não tem honrado os pagamentos em dia.
Com o BNDES, a dívida venezuelana é de US$ 678 milhões. O banco enfrenta ainda a inadimplência de Moçambique, que lhe deve US$ 66 milhões por obras de empreiteiras brasileiras, mas a retomada de parcelas atrasadas está em negociação.
Na semana passada, a CBPO, subsidiária do Grupo Odebrecht, assinou contrato de R$ 578 milhões com Furnas para ampliar a termelétrica Santa Cruz, no Rio. No mercado internacional, a Odebrecht é finalista na licitação para construção da hidrelétrica de Rufiji, na Tanzânia, no Leste da África. O projeto de R$ 3 bilhões pode reposicioná-la num mercado em que tem experiência reconhecida. Consta no seu portfólio a hidrelétrica de Laúca, em Angola.
Empresas dizem ter novos projetos
A Odebrecht informou que tem oito projetos em andamento no Brasil. No exterior, a empreiteira diz ter acordos em Estados Unidos, Panamá, Equador, Guatemala e República Dominicana, além da Suíça, e ainda negocia com autoridades de Peru, Angola e Argentina. Nestes países, exceto a Suíça, são cerca de 22 obras em andamento, que já haviam sido contratadas antes da Lava-Jato. No Peru, a empresa está se reposicionando, com a venda de alguns negócios e a redução da participação acionária em concessões.Alexandre Garcia, analista sênior de construção pesada da Fitch Ratings, avalia que a primeira das empreiteiras a se estabilizar após a tormenta da Lava-Jato foi a Andrade Gutierrez. A empreiteira informa que já tem novos contratos, focando agora na iniciativa privada. Com a Equatorial Energia, por exemplo, assinou contrato de R$ 3,1 bilhões para a instalação de linhas de transmissão. No exterior, ganhou a construção da refinaria Axion, na Argentina, com valor não revelado. Por meio de subsidiárias internacionais, já conseguiu obras na Ilha da Madeira, Argélia e Nigéria. Em janeiro, o governo de Angola aprovou a entrada no país da empreiteira alemã Inzag, que pertence à Andrade Gutierrez.
A situação mais delicada, segundo Garcia, é a da Queiroz Galvão, que atravessou o ano de 2017 renegociando dívidas bancárias — cerca de R$ 10 bilhões, dos quais R$ 1,7 bilhão referente à empreiteira. Procurada pelo GLOBO, a empresa não deu detalhes sobre suas obras fora do Brasil. Limitou-se a informar que vem ampliando sua participação em projetos de infraestrutura no exterior com o apoio de bancos internacionais, agências multilaterais e investidores.
Fonte: oglobo.globo.com
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