Os últimos cinco meses do ano têm sido de reajuste crescente no preço do cimento no Amapá. Até julho era possível encontrar a saca por R$ 26. Mas o valor saltou para R$ 36, R$ 38 e até R$ 40. Um aumento de 65%.
O preço do produto é apontado como principal razão para a paralisação e atraso em obras. Em Macapá, quem tem prazo para a entrega, é obrigado a desembolsar o valor, que deixa o concreto ainda mais “pesado”.
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Amapá (Sinduscon), Glauco Cei, confirma que o momento é de preocupação para o setor.
“Para nós da construção civil é um problema muito sério. Já estamos numa crise de desemprego muito forte, com poucas obras, e isso vai impactar bastante no custo de obra, como também na restrição. Fim de ano é o momento que a pessoa se prepara para fazer reformas, mas com valores altos, acaba desistindo. A pessoa que estava pensando em fazer uma obra vai deixar de fazer por causa do valor muito alto”, falou.
Glauco Cei, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Amapá (Sinduscon) — Foto: Weslei Abreu/Rede Amazônica
Glauco reforça que os fornecedores alegam que a elevação do preço está diretamente ligada ao aumento do frete, por conta de resquícios da greve dos caminhoneiros, que aconteceu em maio deste ano. É o que também afirma o gerente de uma loja na Zona Norte da capital, onde uma saca de cimento custa R$ 40. Ele justifica o preço afirmando ter um serviço diferenciado.
“Aqui o diferencial é que o cimento é um complemento da venda, não o nosso foco. Trabalhamos com ele porque, as vezes, o cliente quer comprar tudo num só lugar, então isso se torna mais viável e não cobramos o frete. São vendas casadas. Mas esse aumento também é em razão da greve dos caminhoneiros, que gerou aumento no frete”, explicou Erivelto Lobato.
Distribuidora que chegava a vender 40 mil sacas de cimento, diz que fábrica está fornecendo apenas 15 mil — Foto: Rede Amazônica/Reprodução
Para outro gerente, dessa vez de uma distribuidora, as fábricas não estão conseguindo entregar ao Amapá a quantidade necessária do produto pedido. Isso, segundo ele, ocasiona a falta do cimento no mercado e reajustes no valor.
“Anteriormente trabalhávamos com duas fábricas do Pará, uma fechou e agora os empresários são obrigados a comprarem de outros estados, como Maranhão. Aí a logística aumenta o custo, a gente depende de balsa, tem frete e ainda os impostos. Compramos a saca por R$ 26, isso sem calcular frete e impostos, e vendemos a R$ 38. Nosso lucro é no máximo de 20%, disse o gerente, que preferiu não ser identificado.
Ainda de acordo com esse gerente, a empresa que costumava comprar de 40 mil sacas, agora consegue fechar compras de 15 mil, o que a fábrica pode fornecer.
Quem não pode paralisar a obra, tem que pagar a mais — Foto: Rede Amazônica/Reprodução
No período de 27 a 30 de novembro, o Instituto de Defesa do Consumidor (Procon) no Amap fiscalizou distribuidoras e revendedoras de cimento de Macapá e Santana. O objetivo foi monitorar a comercialização de produtos neste período de fim de ano e constatar as adequações dos estabelecimentos quanto às leis vigentes no Código de Defesa do Consumidor. O órgão ainda não divulgou o resultado da ação.
Com o valor do insumo acima do previsto, o funcionário público Rui Farias teve que refazer o planejamento da obra da casa própria. Ele mora no bairro Marabaixo 4, Zona Oeste da cidade.
“Eu precisava concluir o calçamento, mas com esse valor, parei o trabalho de concretagem e vou focar no telhado, trabalhar com a parte de madeira. Só volto a usar cimento quando o preço baixar. Tá muito caro, fora da realidade e parece cartel, todos vendendo a preços absurdos. Já comprei por R$ 21, R$ 26, R$ 29, R$ 35, R$ 36, R$ 40 e até de R$ 45. Agora não dá mais, vou parar”, reclamou.
No Marabaixo 4, Zona Oeste de Macapá, o funcionário Rui Farias teve que paralisar o serviço de calçamento da casa própria — Foto: Rui Farias/Arquivo Pessoal
O presidente da Sinduscon alerta para variações de preço também de outros insumos importantes para a construção civil, como seixo e areia. Segundo ele, nos próximos meses o consumidor amapaense poderá encontrar esses produtos com até 120% de aumento.
“Além do cimento, há possibilidade do seixo e areia aumentarem quase 120%. O motivo é a diminuição na quantidade do material que chega na capital, por conta da fiscalização realizada pela balança do Dnit [Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit)], que estava alegando sobrecarga nos caminhões. Como são poucos os pontos de distribuição, o material fica mais caro”, adiantou Glauco Cei.
Fonte: g1.globo.com/ap/amapa
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