sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Selic alta, desequilíbrio fiscal e os entraves à construção civil

 


O setor da construção civil sempre foi sensível aos ciclos econômicos, mas nos últimos anos essa sensibilidade tem sido aguda. A taxa básica de juros permanece elevada, a política fiscal segue indefinida e os custos operacionais continuam pressionando margens. O resultado é um setor que resiste, mas que encontra poucos incentivos para avançar.

arcabouço fiscal em vigor, embora tenha sido desenhado para conferir previsibilidade às contas públicas, não tem sido suficiente para ancorar expectativas. A dificuldade do governo em conter o crescimento dos gastos obrigatórios e a falta de avanços estruturais, como a reforma administrativa e a consolidação da segunda fase da reforma tributária, têm mantido o risco fiscal elevado.

A meta de déficit zero para este ano já foi relativizada, e o mercado compreendeu o recado: o compromisso com o equilíbrio fiscal é, no mínimo, flexível. Essa percepção se reflete nas projeções de juros futuros. Com incerteza fiscal, o Banco Central não tem espaço para acelerar cortes na taxa Selic sem comprometer sua credibilidade.

Selic parada, mas com novos horizontes

O mercado, conforme os dados mais recentes do Boletim Focus, projeta que a taxa Selic permaneça no patamar de 15% até o fim de 2025, com uma trajetória de queda moderada nos anos seguintes: 12,50% em 2026, 10,50% em 2027 e 10% em 2028. Ou seja, não há espaço para apostas ousadas.

Parte da cautela decorre de fatores externos, como os conflitos no Oriente Médio envolvendo Irã, Israel e Estados Unidos, e o avanço de políticas protecionistas promovidas por Donald Trump, com destaque para tarifas sobre produtos brasileiros, que adicionam novas camadas de incerteza à política monetária. Em um país ainda dependente de capital estrangeiro, esses elementos não são acessórios: afetam câmbio, inflação e o custo de rolagem da dívida.

Crédito difícil e custo alto: a trava da construção civil

taxa de juros elevada compromete a viabilidade econômica dos projetos. O cenário atual impõe restrições severas à tomada de decisão, tanto por parte das empresas quanto das famílias. O financiamento imobiliário se tornou mais seletivo e caro. Para as construtoras, isso significa adiar lançamentos, rever escopos e reavaliar cronogramas.

Além disso, os custos da própria construção subiram: o setor enfrenta pressões inflacionárias sobre materiais, mão de obra qualificada e insumos logísticos. Isso corrói margens e cria desafios adicionais para manter o equilíbrio econômico-financeiro das obras já contratadas. Em projetos de infraestrutura, o impacto é ainda mais sensível, dada a dependência de capital intensivo e a duração de longo prazo dos investimentos.

Perspectiva para o Copom e o que isso significa para o setor

A próxima reunião do Copom deve confirmar a manutenção da Selic em 15%. Não se espera alteração no curto prazo, mas o tom da comunicação será determinante para sinalizar os próximos passos. Caso haja algum avanço nas contas públicas ou redução nas tensões externas, o Banco Central poderá, ainda que de maneira tímida, reabrir espaço para discutir cortes a partir do início de 2026.

Para a construção civil, isso representa mais um período de espera e preparação. O setor precisa lidar com um horizonte de juros altos prolongados, ao mesmo tempo em que mantém sua capacidade de entrega e competitividade. É uma travessia difícil, mas não inédita.

Riscos persistem, mas o setor não para

A construção civil já enfrentou cenários adversos em outros momentos. Em 2025, o desafio está em manter a disciplina e a prudência financeira sem perder a capacidade de resposta para quando o ambiente voltar a ser mais favorável.

Empresas que conseguirem adaptar seus modelos de negócio, inovar na gestão de obras e diversificar fontes de financiamento estarão mais bem posicionadas para capturar as oportunidades que virão com a futura redução dos juros.

Enquanto isso, o foco deve estar em preservar eficiência, avaliar riscos com rigor e manter o olhar atento para os sinais de mudança no ambiente macroeconômico.

Fonte: https://www.folhavitoria.com.br/


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